quarta-feira, janeiro 31, 2007

O meu. O teu.

Balancei-me para ver o teu vestido vermelho citadino. Consagrei o tempo à análise detalhada de todo o teu movimento. Do meneio das tuas ancas aos curvilíneos pormenores do teu corpo esvoaçante. O sorriso é matreiro e conheço-o: o meu. Suspiro o suficiente para evitar eclodir uma grave doença. Afinal, o jornal de hoje não traz tinta suficiente para me distrair do holograma que permanece na rua: o teu.

terça-feira, janeiro 30, 2007

E assim me lixaste

Caro Pedrusku

Tenho ganas de te esganar. Apertar lentamente o teu pescocinho, não para que obtenhas qualquer prazer sexual com isso (se é que tens dessas parafilias), mas para deliciar-me sadicamente enquanto te vejo asfixiar em agonia.
Graças a ti, e aos teus néscios comentários - o que também me lembra de te destruir a boca à tijolada - os meus novíssimos ténis perderam derradeiramente o ar nipónico, e por conseguinte peculiarmente fashion característico de terras de sol nascente, que eu lhes atribua, para passarem a ter um ar invariavelmente cabresco.
Por muito que olhe para baixo, não há modo de não sentir que passei a andar em cascos, que sou um ser diabolicamente híbrido, metade animal metade mulher, e que aquelas rachas interdigitais condensam todo o mais negro e profundo maquiavelismo do mundo e arredores.
É certo que sempre que me olhava ao espelho, ou num reflexo de uma montra - que eu cá, ou lá, ou em qualquer sítio, sou vaidosa que me farto – vislumbrava um ser demoniacamente tentador, mas porra, também não era preciso tanto!

A primeira e a segunda.

Há duas coisas que me irritam. E, note-se, que a primeira causa-me mais frenesim do que a segunda. Quer dizer, quando era mais novo, a segunda irritava-me mais do que a primeira. Mas depois fui crescendo e acabei por deixar a segunda ter mais peso do que a primeira. Não é que eu não goste da primeira e goste da segunda. Antes pelo contrário: a primeira coisa é bem diferente da segunda, mas se olharmos com atenção para as duas, a segunda tem algumas semelhanças com a primeira. E eu não sei o que estou a dizer, estou apenas a tentar postar com a máxima velocidade possível para depois ver no que dá este exercício marado...

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Ele não.

Passei. Ele não: foi atropelado. Quatro foram, no mínimo, as frenéticas cambalhotas que registei pelo retrovisor. Mirei-o com medo e ansiedade e, por algum motivo, parecia que a sua má sorte se processava lentamente.
- Passou? - perguntou-me.
Em má hora o fez. Percebi que não tinha escapado; apertei as armações do meu peito para suster a enorme tristeza que senti.
- Sim... sim, não te preocupes: o cabrão do cão safou-se.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Ai não, não queres…

Geralmente, as pessoas que acabam de perder a oportunidade de se sentarem comodamente num assento de um transporte público apinhado, isto porque algum marmanjo(a) se adiantou ao "assunto", dizem:
- Ai não, não quero… Passei o dia todo sentado(a)!
Não queres mas é o tanas!

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Hipersensibilidade

Alguém abriu as comportas dos meus sacos lacrimais... Puta que pariu o caralho dos desequilíbrios hormonais! Foda-se para esta merda!


(e não, não me sinto melhor)

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Um lugar ao sol

O frio é tanto que uma pessoa sente-se um animal vadio, sem eira nem beira e muito menos onde cair morto, à procura da mais ínfima que seja nesga de sol.
Há pouco só não arreganhei raivosamente os dentes e acossei um velhote que usufruía do únicos e parcos raios solares junto à paragem de autocarro, no que se podia transformar num violentíssimo e letal conflito físico, com orelhas arrancadas e arranhadelas profundas no meio de angustiantes ganidos, porque a rua em questão é suficientemente estreita para eu ter podido esperar confortavelmente no passeio oposto, usufruindo assim em todo o seu esplendor do toque caloroso do sol de cara levantada ao céu, como se fosse a mais profunda bênção. E enquanto isso, uma insolente vozinha interior, feita miúda reguila, e olhar de desdém, dizia: “Embrulha! Vai buscari! Tenho mais que tu! ehehehehe”.


Meu Zeus! Ao que uma pessoa chega quando lhe dá para a possessão…vou ali fazer um acto de contrição...

terça-feira, janeiro 23, 2007

Boas maneiras

Questiono-me se porventura passar a cumprimentar as pessoas com quem diariamente me cruzo na rua, e que de tanto as ver tornam-se familiares, chamar-me-ão de louca.
Há um casal em particular, com o qual simpatizo especialmente, talvez por lhes faltar aquele ar normaleco de quem está enfiado nos cânones da sociedade até ao pescoço, e cuja gravidez dela acompanhei, perante o qual o meu primeiro instinto é abrir-me numa saudação sorridente. Porém retraio-me sempre, que o mundo nunca nos ensinou a ser simpáticos para estranhos, e uma grande cidade não é uma aldeia, pois não, mas sempre nos ensinaram a ser bem-educados para os conhecidos. E é isso que eles são. E eu volto a questionar-me, desta feita porque não o faço, que não tem nada de mal, é apenas simpatia em estado puro, e eu gosto de acarinhar, e fico frustrada pela minha falta de coragem e pelo medo da reacção alheia.
Lembro-me de um rapaz que costumava ver a caminho do trabalho e que me cumprimentava religiosamente todo o santo dia. Julgo que me trespassou fugazmente a tal ideia de loucura, mas quem é este, e por muitas voltas que tenha dado à minha cabeça (em verdade foram só algumas), nunca consegui descobrir se o conhecia de algum lado. Sinceramente deixei de me importar com o assunto, pormenor de somenos importância, recebendo e retribuindo naturalmente o cumprimento matinal, no que passou a ser um atencioso ritual diário de boa disposição. Não sei se apenas sorriamos, ou se falávamos, já não me recordo, que as lembranças esbatem-se, mesmo as mais cândidas, mesmo as que guardamos com mais carinho, contudo era dos momentos mais descontraídos e verdadeiros do dia. E eu gostava. Muito.

Repetição

Pergunto-me quantas vezes é humanamente possível ouvir uma música sem a enjoar de morte…

...em mim tudo é maior...
(e continua a cantá-la, e continuo a cantá-la, e continuo a cantá-la...)
...hoje o desejo amanhã nasce o ódio em mim...
(e daí talvez não)

Contra-vontade.

O meu pai insistiu para tirar um curso como, se de facto, fosse a minha salvação: nota-se, está à vista! A minha mãe sempre quis que eu não andasse a distribuir pancada em todos os putos que me revoltassem: ainda hoje tenho alguns atritos com gente tacanha (mais verbais). O meu irmão propôs que eu, tal como ele, se formasse em música: basicamente, tornei-me num executante vergonhoso. A minha avó paternal, a qual não me via assim com tanta frequência, confessava aos meus pais: “Tenho impressão que ele é homossexual”. A minha namorada de então tinha graves problemas de equilíbrio psíquico: soube mais tarde que acabou por ser encaminhada ao tratamento devido. Assim, julguei que era como ela: extraordinariamente meigo, mas louco, atrofiado e marado dos cornos. A determinada altura e atendendo a estes desgostos e “puxares” de contra-vontade, comecei a isolar-me numa individualidade própria de quem não quer incomodar os outros. A bem da minha paz, o efeito resultou. Todavia, comecei a sentir-me muito só e inverti a situação. Mesmo assim, pergunto-me muitas vezes o porquê (ainda!) dos resquícios: “Foda-se, o que faço eu aqui sozinho quando o pessoal está todo a conviver lá dentro?”

domingo, janeiro 21, 2007

Vergonhoso

Tenho que perder o hábito, aquando alcoolizada, de adormecer e babar-me no carro das pessoas que me transportam para casa.
Principalmente se isso acontecer a meio de uma conversa.


Apontamento completamente desnecessário (etiquetagem que se aplica facilmente a tudo o que escrevo): enquanto estávamos sentados no carro estacionado defronte do hotel que se situa do lado oposto da rua do prédio onde vivo, na tagarelice entrecortada pela minha sonolência etílica, sai de um táxi, que entretanto ali parou, o tipo que participou num dos últimos reality shows do execrável canal 4 e que fingiu ser milionário, com o típico semblante de fim de noite regada e puxada e de quem precisa de umas belas horas de sono; e eu penso que o rapazote tem uma estatura bem menor do que aparentava, que isto da imagem televisiva engana sim senhora, e pergunto-me onde é que está a gaja, porque tenho esta vaga ideia de ter lido nos tablóides que ele tinha ficado com ela, e especulamos se o bêbedo acompanhante que vomitou à saída do táxi e mais uma vez à entrada do hotel - coisa vergonhosa, começo a pensar para logo dizer cala-te boca que já andaste a fazer figuras parecidas, não hoje, não foi o caso, só adormeci a meio da conversa – é porventura o namorado e o tipo afinal é gay, e agora que olho para a rua indago-me se o bólide desportivo que está ali estacionado foi o preço pago pela alma dele.

Comentário/Post à "Tortura" de Anäk

Ok, vou-me deitar porque já tenho sono. Só que no momento em que me preparava para um último comentário ao post de Anäk, vi uma oportunidade absolutamente fantástica para escrever o texto mais miserável da minha vida enquanto bloguista (blogueiro, blogger ou qualquer outra definição mais pertinente). Sem mais demora, aqui vai:

Quando era bem mais criança do que sou hoje, comprei numa sexshop uma brilhante película, intitulada: As Taradas do Norte (ou qualquer coisa assim). Tinham as caras e corpos mais horripilantes que já tinha visto desde a minha precoce idade masturbatória! Porém, e agora que reflito sobre o post de merda que fiz, recordo que, em teenager, andei nuns 'amassanços' com uma rapariga de Fafe; isto, após uma noite indelével numa discoteca pior que a mais miserável tasca alfacinha que possamos imaginar! Todavia, a rapariga era bem concebida e fazia jus à verdadeira condição da mulher nortenha.

Coincidência? Não. (Uma minúscula teoria)

A propósito disto:

- Sabes quem é que eu vi no outro dia no Colombo?
- Não sei(?)...
- A Sara. Lembras-te? Foi aquela que me fodeu a cabeça toda.
- Foda-se, grande coincidência! Já não a vias há anos!
- Grande coincidência? Não.

Só por esta razão que expresso numa minúscula teoria:

Não acho que existam coincidências! Se estiver num grande espaço comercial, provavelmente estarão lá 10 ou mais pessoas que conhecerei de vista. Isto facilitará em termos percentuais o meu encontro com qualquer um deles. E o que direi então? "Meu Deus, que coincidência divina?!" ou "Como é possível encontrar-te aqui após tanto tempo?".

De uma forma lógica, simplifico um dos enredos redundantes do esoterismo e afins e poupo a cicatriz já aparentemente sarada do meu cérebro .

A puta da dislexia

E depois de tantos anos, e depois de tantas leituras e tanta escrita, continuo com a ligeira dislexia, se é que isso existe, que me foi diagnosticada, ou coisa parecida, pelo psicólogo a que os meus pais me levaram quando ainda frequentava a primária e que, por muito estranho que me pareça, é das recordações mais vívidas da minha infância (só não entendo porque é que não me voltaram a levar lá…). Um dia destes ouvi na televisão qualquer coisa como dislexia posicional, e eu bem que me lembro de ver televisão de pernas para o ar, mas vai na volta isso era devido ao astigmatismo, ou então já era a minha veia torcida a revelar-se.
O que sei é que continuo a escrever uma coisa e a ler outra, que continuo a trocar os vês pelos éfes, e os cês hagás pelos jotas, e vice-versa, trocas e baldrocas que me valeram tantas palmadas no rabo - ó pai isso não se faz, afinal tenho apenas um pequeno defeito de fabrico, a culpa não é minha, juro - e por vezes são sílabas inteiras que mudam de sítio, e eu não gosto, pois não. Chiça penico para esta merda!

(isto tudo a propósito de no post anterior ter escrito enviar-ma ao invés de enfiar-ma. como se enviasse alguma coisa goela abaixo! e daí...pensando bem no assunto…se for tipo jacto…)

sábado, janeiro 20, 2007

Os ares que lhes dão

Como se não me bastasse o merceeiro da esquina, cruzado com presuntinho da Régua, com aquele ar anafadinho de tez rosácea e feição abrutalhada que ninguém lhe consegue tirar, olhar-me de modo gulosamente lascivo, com todas as implicações advindas do facto de me oferecer amiúde fruta e quase enfiar-ma goela abaixo, não aceitando um não como resposta, agora sou igualmente alvo de atenção cerrada do novo ajudante que invariavelmente me faz lembrar, por muitas voltas que dê, a personagem principal de um livro que li ainda miúda, que a minha mãe tinha lá por casa, intitulado Tim, e que padecia de um deficit de inteligência. Mas isso talvez se deva ao ar alegremente aparvalhado que traja cada vez que me vê…

Tortura

Numa autêntica provocação, e a testar as minhas forças, ou não fosse eu o novo messias, abriu uma sex shop no meu caminho casa-trabalho-casa, o que, tendo em conta o deserto fálico por que atravesso, é uma provação sem igual.
Ele é lingerie na montra, e, pasme-se, ao contrário do que é habitual, coisas giras, sim senhora, nada daquelas com ar ordinariamente barato a tresandar a putedo de fim de linha, ele é correias em cabedal, e ele é, num relance para o interior da loja, uma multidão agitada de amiguinhos com pilhas. E os meus olhos esbugalham-se a sorrir, e eu só penso em ser amarrada, e eu desejo transformar-me num irresistível embrulho de oferta – para ser excitadamente desembrulhada, e eu sigo assim de respiração entrecortada, e eu perco-me em memórias arquejantes e lembro-me do que não devo…

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Outrora, o amor circulante.

Entre as chávenas de café e as beatas espalhadas na mesa do Cunhas, circulávamos a ganza, a poesia e a música até à irresponsabilidade das horas. Quando te vi no meio de tanto fumo, no teu fato macaco e com meneios de maria-rapaz, o meu coração saiu disparado do peito e caiu em convulsão nas tuas mãos. Quis tirar-te daquele antro de boémia e estender-me contigo num descampado verdejante. E, numa toalha vermelha axadrezada, rejubilar-me ao acarinhar a tua gula com os meus frutos silvestres.

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Coincidências (ou A saga continua)

O que pensar quando a quem estamos a digitar uma mensagem nos telefona e, em virtude de termos saído do modo texto mas continuarmos a carregar na tecla, ficar no ecrã do telemóvel o número da besta?

Será o demo a fazer-se de amigo? E serei eu o novo messias?
(de vez em quando dá-me para a megalomania...)

Xixi Cocó na televisão...

O Xixi Cocó tinha um atraso mental. Conheci-o em miúdo e sabia que gostava de apalpar todas as raparigas. Rejubilava aquando do toque dos seus dedos descoordenados nas mamas rijas próprias das adolescentes. Mas isso também eu gostava – ai caramba se gostava! De vez em quando, lá se via o Xixi Cocó a fugir dos namorados das moçoilas e, outras vezes de vez em quando, também se via o Xixi Cocó com um olho roxo ou com o braço ao peito. A minha mãe, professora do primeiro ciclo – isto, desde o momento que a conheci naquele episódio embaraçoso e pouco dignificante da minha vida (o nascimento que pôs fim ao fardo de estar prenha, é claro!) -, dava aulas na avenida. Um belo dia teve a perspicácia de olhar para janela e lá estava ele: o Xixi Cocó defronte das janelas principais. Lentamente, mas muito mais rápido do que a sua destreza em fechar os estores, o rapaz de atraso mental considerável desceu as calças. Enfim, o suficiente para ficar com o gigantesco “bacamarte” à mercê das avaliações de crianças imberbes. Por alguma razão, no meio de todo aquele protagonismo, ele gritava bem alto e sorridente para todos ouvirem, inclusivamente a minha mãe: “Xixi Cocó na televisão. Xixi Cocó na televisão” Uma verdadeira estrela do showbiz de quem nunca vim a saber o nome.

terça-feira, janeiro 16, 2007

E assim segue a vida

Ocasionalmente a minha vida assemelha-se a um filme de classe Z, tamanha é a sucessão de estranhos acontecimentos ocorridos. Isto à luz da minha demência fantasiosa, claro, ou não tivesse eu esta mania intrínseca de atribuir significados transcendentais - como se tal pudesse explicar a vida - a todos os mais ínfimos detalhes, incluindo a unha encravada que felizmente nunca tive. Estão, portanto, já avisados poupando-vos assim da consequente desilusão causada pelos desinteressantes acontecimentos a seguir relatados. Não esperem grande coisa.
Isto a propósito de no outro dia, estar eu preparada para levar as calças à costureira para as transformar naquilo que pode parecer aos olhos de muitos uns calções, ou seja, vulga bainha, quando oiço a campainha. Era a por mim sempre esquecida D. Fernanda a solicitar o contributo mensal pela periódica, e também esporádica, esfregadela às escadas cá do prédio.
Abro a porta. “Boa-tarde, ía mesmo agora sair e vou lá baixo levantar dinheiro”, digo eu mais uma vez culpabilizando-me mentalmente por não ter vergonha na cara e pela minha taralhouca irresponsabilidade, “ Não se preocupe, dá-me depois. Deixa no quiosque.”, diz ela enquanto interiormente, presumo eu, me desanca num chorrilho de impropérios (se fosse eu fazia-o!), “De qualquer modo tenho que sair”, remato eu. Pego no saco com as calças e fecho a porta atrás de mim e imediatamente entro num estado febril de catatonia quando me apercebo que não tenho comigo a chave de casa.
Depois de ter passado por todas as cores possíveis e imagináveis, incluindo a fantástica e não menos famosa cor-de-burro-quando-foge-mas-o-que-é-que-eu-faço-agora-meu-deus-que-eu-entro-em-pânico, e depois de ponderar chamar os bombeiros e assim ter alguma adrenalina na minha vida, a simpatiquíssima mas por mim esquecida D. Fernanda sugere-me que vá ao chaveiro da rua. Bem-dita senhora! Foi assim que assisti em primeiro mão, o que não é para todos, ao arrombamento da minha porta de casa. A maioria nunca assiste a este delicado processo. Já encontra a porta arrombada.
Escusado será dizer que toda eu irradiei luz de alívio e que até as orelhas sorriram ao ouvir aquele deífico som da porta abrir. Segui então para a rua, cantando e rindo qual Julie Andrews em Música no Coração, com um dos propósitos que me tinha feito sair de casa para me deparar com a porta fechada da costureira. Azar. É por esta altura que uma qualquer engrenagem dentro de mim ganha movimento e eu começo a especular um futuro cataclismo, e espero a qualquer instante ser abalroada por um camião TIR. Isso, ou ir contra um poste.
Mas não. O que sucedeu a seguir, no supermercado, foi no mínimo para mim inédito. Ao chegar à caixa, a quantia a pagar era exactamente, sem tirar nem pôr, a quantia de dinheiro que tinha comigo: 3,43€. E pela primeira vez, desde que a minha mãe ma ofereceu, a minha carteirinha de pelúcia rosa-choque, ficou completamente vazia. Nada. Niente. Nem um cêntimo. Zero. E eu senti-me, com não sentia há muito, estranha e profundamente liberta. E segui flutuando...

(poderia agora dissertar como o dinheiro nos monopoliza e escraviza, contudo penso que estamos todos cientes disso. ou não?)

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Pedro e a sua veia psycho.

Sim, é verdade e foi horripilante ouvi-lo confessar a sua veia psycho! Estacionados à porta da entrada do seu prédio, onde Pedro partilha a companhia da sua companheira, os ponteiros já batiam na uma e tal da manhã (isto, num dia destes...) e o mesmo surge de forma imprevista, assim: "Sabes Jörf, às vezes tenho vontade de tapar-lhe a cara com a almofada e depois cortá-la às postas..." Pensei ainda que, se a miúda tem tendências suicidas, viria um outro plano mais sofisticado... e veio (meu Deus!). Diz-me, então, "conheces a ressaca de MD? Bom, tenho a certeza que se lhe oferecer, ela vai sentir-se tão deprimida ao ponto de querer cortar os pulsos, saltar da janela ou tomar comprimidos em demasia!" Em nome do equilíbrio relacional, só tive mesmo vontade de rir desalmadamente e ri. Acho que ele retomou o tino ao perceber a minha resposta! Estou de parabéns: salvei uma vida!

sábado, janeiro 13, 2007

(Ir)responsável.

Um filho lírico e outro irresponsável. Devo ser a segunda opção. Ainda me falta um bocadinho assim para assumir a primeira. Tudo pelo simples facto de contestar a vida que levo. Encontro, então, e junto dos meus amigos, a tal irresponsabilidade que me faz feliz. A saber, fumar e jogar playstation doentiamente (Milagres) e discutir com o meu companheiro das longas conversas filosóficas (Pedro) as incongruências maradas da vida. Tento ler os livros de outros insatisfeitos (Cossery, Orwell, Wallace, Reis, Huxley), olhar a tela de quem a faz de outra forma (Jeunet, Kar Way, Besson), fotografar e procurar a boa índole nas pessoas que abraço há anos e, também, naquelas que acolhi há meses. Pai, a minha maior (ir)responsabilidade é apenas querer viver contente e ver esse desejo naqueles que me ajudam a rir de uma coisa tão enfadonha: a monotonia demasiadamente séria do dia-a-dia.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Presente-para-o-futuro-para-o-passado.

Tenho uma séria preocupação com minhas as vivências decorridas na infância e adolescência. Pergunto-me, às vezes, o que terei feito nelas? Só me lembro de pequenos apontamentos e quase todos eles os mais violentos. Possivelmente faço uma filtragem no presente para o futro, ficando o passado com as impurezas. Estranho, ou não? Possivelmente, não inverteria o mau para o presente e o bom para o passado. Isso seria ser saudosista. Prefiro olhar para amanhã. Espero que faço sol e não haja greve de metro.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Castigo

Quando não se resiste ao pecado capital que é a gula e se cai na tentação, neste caso particular em formato Glória – um bolo calórica e colesterolmente tremendo – não só se sente o peso do arrependimento que nos mantém aprisionados às crepitantes labaredas do inferno, como recuperamos os gramas e os centímetros perdidos a tanto custo, ou por outras palavras, a custo da canja de galinha.
Por este andar, uma vez que a puta da idade não ajuda em nada, antes pelo contrário, qualquer dia nem os meus belos olhos, que eu hoje narcisicamente admirei tanto, nem as minhas fabulosas mamas me salvam!

E depois?? Depois, não haverá quem me queira levar ao castigo porra! E isso sim, será o verdadeiro martírio.

Os pastéis escondidos na caixa...

Ainda bem que já não chovia no jardim e ainda bem, também, que tinhas contigo o polén. Sabes (?!), aquele que partilhas ali comigo em Belém. E a propósito de Belém, o gosto que deu ver-te comer todos aqueles pastéis. Mais uns passos adiante, num banco de jardim estrategicamente seleccionado, e antes de preparar o teu pólen, sei que ainda querias comer os que se escondiam na caixa. Estes, assustados, receavam a tua boca. Pensei eu que, para um doce, haveria mortes bem mais dolorosas e tristes - sim, que tal morrer com a gula de um badocha de 110 quilos e com a diabetes em estado terminal!? Pelos menos, tu trincas com um ritmo paciente e sempre com expressão de menina-laroca espirituosa.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Vamos jogar?

Após tanto azucrinar a cabeça do meu companheiro de banco de jardim para criarmos o blog, depois de tantos textos a discorrer na minha mente, sempre ocupada, sempre no ar, eis que me deparo com a habitual e indesejável ausência de criatividade e imaginação.
Tenho cá para mim – expressão que apanhei ao ler o novíssimo do MEC – que entro em pânico sempre que me deparo com as situações. Eu sou como aquelas equipas de futebol portuguesas com dificuldade na finalização. Jogo bonito, faço não sei quantas fintas, tropeço nos meus próprios pés para me levantar falaciosamente airosa com um esgar amarelo no semblante desejoso de encontrar um buraco onde se meter – o que no meu caso não é difícil – continuo desalmadamente a correr campo fora como que possuída pelo coelho daquelas pilhas cujo o nome não me apetece divulgar porque ninguém me paga para fazer publicidade, para finalmente quedar-me estarrecida defronte da imponente baliza sem fazer porra de ideia de onde é que deixei a bola.
Podia dizer que esta é a história da minha vida, não fosse o caso de eu não saber jogar futebol.

1,2,3 Experiência

Humm...