terça-feira, fevereiro 27, 2007

Pombinhos

Se porventura houve alguém que tenha dado pela minha falta fique sabendo que eu continuo aqui sentada no banco de jardim a contemplar a vida que passa e os passarinhos. Ainda hoje, embrenhada nesta minha atenta observação do mundo, dei com, não um, mas, dois pares de pombos, em alturas e lugares diferentes, juntinhos num amoroso aconchego, quais casais no auge do enamoramento, a debicarem-se carinhosa e mutuamente num jogo de sorrisos, fazendo jus à expressão pombinhos (ou isto foi apenas a minha imaginação sequiosa de romance e vai na volta estavam apenas a desparasitar-se). Tal pormenor e coincidência, perante o meu já usual derretimento lamechas, assemelhou-se-me inicialmente a uma afronta da vida, a lembrar-me que até os bichinhos têm aquilo que eu não tenho – uma cabal e atroz prepotência do meu ego humano que se acha mais forma de vida que as restantes – não fosse eu entretanto lembrar-me que, além de eles caírem à minha volta que nem tordos e não deixar de ser alvo dos olhares de cobiça masculinos mesmo nos dias em que me sinto menos atractiva, até arranjei moçoilo para me distrair. Não me parece é muito bom agoiro este meu momentâneo esquecimento, conquanto pudesse justificar tal facto com a distância e outras quantas coisas que não interessa trazer a lume, nem a outro sítio qualquer. Fico entretanto aqui a pensar, como tantas vezes antes, e outras tantas depois, reconfortantemente encostada neste meu acolhedor banco de jardim, se não passo de uma lírica a desejar uma relação onírica e a tentar alcançar o impossível, fadando-me assim à sentimentalmente inóspita condição de tia solteirona.

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Confesso que até chegar ao "em alturas e lugares diferentes" tive medo do que ía sair daí! É que numa altura em que tanto se fala em swing quase pensei que até os pombinhos alinhavam nesses jogos sexuais!

terça-feira, fevereiro 27, 2007 7:53:00 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home