terça-feira, janeiro 23, 2007

Boas maneiras

Questiono-me se porventura passar a cumprimentar as pessoas com quem diariamente me cruzo na rua, e que de tanto as ver tornam-se familiares, chamar-me-ão de louca.
Há um casal em particular, com o qual simpatizo especialmente, talvez por lhes faltar aquele ar normaleco de quem está enfiado nos cânones da sociedade até ao pescoço, e cuja gravidez dela acompanhei, perante o qual o meu primeiro instinto é abrir-me numa saudação sorridente. Porém retraio-me sempre, que o mundo nunca nos ensinou a ser simpáticos para estranhos, e uma grande cidade não é uma aldeia, pois não, mas sempre nos ensinaram a ser bem-educados para os conhecidos. E é isso que eles são. E eu volto a questionar-me, desta feita porque não o faço, que não tem nada de mal, é apenas simpatia em estado puro, e eu gosto de acarinhar, e fico frustrada pela minha falta de coragem e pelo medo da reacção alheia.
Lembro-me de um rapaz que costumava ver a caminho do trabalho e que me cumprimentava religiosamente todo o santo dia. Julgo que me trespassou fugazmente a tal ideia de loucura, mas quem é este, e por muitas voltas que tenha dado à minha cabeça (em verdade foram só algumas), nunca consegui descobrir se o conhecia de algum lado. Sinceramente deixei de me importar com o assunto, pormenor de somenos importância, recebendo e retribuindo naturalmente o cumprimento matinal, no que passou a ser um atencioso ritual diário de boa disposição. Não sei se apenas sorriamos, ou se falávamos, já não me recordo, que as lembranças esbatem-se, mesmo as mais cândidas, mesmo as que guardamos com mais carinho, contudo era dos momentos mais descontraídos e verdadeiros do dia. E eu gostava. Muito.

1 Comments:

Blogger Jörf said...

Eu de manhã, e muito basicamente, só tenho vontade de mandar todos à merda - isto até acordar de vez...

quarta-feira, janeiro 24, 2007 8:37:00 da manhã  

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